HELLEN VIEIRA DA FONSECA

Conheça um pouco sobre a minha história de vida pessoal.

Meu nome é Hellen Vieira da Fonseca, professora aposentada da SEDF, onde trabalhou durante 30 anos. Sou Pedagoga, Mestre em Psicologia, Consteladora Familiar Sistêmica, Pedagoga Sistêmica e Escritora. Dediquei-me, na Secretaria de Educação, à alfabetização de alunos com deficiência e à inclusão escolar, atuando com formação de professores para Educação Especial e Inclusiva. Há mais de 15 anos atuo na formação em Pedagogia Sistêmica, segundo Bert Hellinger, sendo pioneira no DF.

Nasci em Brasília-DF, fruto da misturinha do papai e da mamãe, em uma casinha na beira do Lago Paranoá. Meu pai, Joaquim Clementino da Fonseca, era um mineiro bem palhaço e brincalhão. Ele trabalhava como  técnico em gesso e moldava as botinhas com muita arte. O Quinca era muito querido por todos no hospital e lá ele também aprontava com suas brincadeiras. Minha mãe, Clarice Vieira da Fonseca, era uma goiana que trazia na tradição da família a profissão de costureira. Pura arte as roupas costuradas por ela, cresci com minha casa cheia de pessoas escolhendo modelos para minha mãe costurar. Ali presenciei muito amor no seu trabalho, como ela mesma dizia: em cada ponto o amor segue. Também trabalhou como servidora pública durante uns anos na escola onde anos depois eu estava como diretora. Todos elogiavam e queriam ficar perto da minha mãe. Ela tinha um imã da amizade. Lá limpou o chão por muito tempo, depois foi trabalhar no almoxarifado, tempos depois, quando eu já estava na escola, ela foi transferida para um tribunal.  É tão gratificante lembrar um pouco da história dos meus pais e perceber o quanto eles amavam o trabalho que desenvolviam. Os dois casaram-se em uma cidade no interior de Goiás e mudaram-se para Brasília com a esperança de uma nova vida diferente da que viviam na fazenda e venceram todas as adversidades juntos. Sou a segunda filha e considerada filha do meio. Porém, hoje sei que tive uma irmã que não nasceu por parte de pai, e uma gêmea, portanto somos cinco irmãos: Helder, Hellen, Henia, Nancy e Herlen.

Cresci na cidade de Taguatinga-DF. Lá chegamos quando havia apenas casas. O pão e o jornal eram entregues por um motoqueiro que os colocava na varanda às 6 horas da manhã. Uma casa pequena de dois quartos apenas. Lembro que dormíamos em um trililiche de tão apertado que era o quarto. Como eu era filha do meio, minha cama ficava entre a dos meus irmãos. Pense no calor! E muitas vezes era surpreendida durante a noite com a goteira (rsrsr) que vazava da cama do meu irmão…

Hoje está claro que a minha habilidade atuando com pessoas vem da relação com a infância. Daquilo que eu mais fazia, que era unir meus pais e ver um lado bom em tudo.

Aos 8 anos de idade minha mãe me ensinou a cozinhar e me colocou responsável pela arrumação da casa e pela culinária, e eu assumi essa responsabilidade com amor. Experimentava várias receitas e fazia bolo de aniversário para os colegas da rua. Neste período, enquanto meu pai seguia sua profissão como técnico de gesso, minha mãe que antes lavava, passava e costurava roupas, iniciava sua trajetória na Secretaria de Educação como servidora pública e, posteriormente, no Tribunal Eleitoral onde se aposentou. Fui uma criança que fazia de tudo para não dar trabalho. Era obediente, estudiosa, tirava as melhores notas e sempre preocupada com os pais.

 Aprendi a resolver conflitos. Sempre estava de olho nos problemas dos meus pais e buscava ajudar de todas as formas na minha imaginação e em orações. Naquele tempo, fazia de forma inconsciente. Só tive clareza do que movimentava tentando ajudar meus pais depois que iniciei minha trajetória estudando o conhecimento sistêmico. Era uma menina calma, que procurava não dar trabalho para os pais e que ficava de olho em tudo o que acontecia. Foi assim em toda a infância e, na adolescência, buscava ajuda para os conflitos que aconteciam em casa. Visitei vários templos e igrejas para curar meu pai da bebida. Que arrogância a minha! Hoje consigo reconhecer isso.

Hoje olho para minha criança e vejo que ela atuava para unir os pais. Daí cresci com uma grande habilidade, a de resolução de conflitos. Com um olhar amoroso para os meus pais e fazendo de tudo para que eles ficassem juntinhos, fui me especializando em uma espécie de embaixadora dos conflitos. E hoje sei que esse não era o meu lugar de filha, eu não tinha que me envolver com os conflitos dos meus pais. Assim, procuro fazer hoje algo bom com tudo isso que vivenciei, ensinando as crianças a juntarem o papai e a mamãe sem entrar no conflito. E isso é mágico!

 O mais interessaste é que em todo o meu percurso desde criança até a vida adulta sempre atuei com um amor que transbordava, com um olhar amoroso que só compreendo hoje depois que estudo e vivencio o conhecimento sistêmico

Fiz o Curso Normal ainda na adolescência e passei aos 17 anos no Concurso Público para professor da SEDF.

Enquanto aguardava a chamada para assumir o cargo de professora na SEDF, já com 18 anos, tive a oportunidade do primeiro emprego Clínica Santa Clara como secretária e lá também a minha característica em resolver conflitos destacava-se. Nos momentos mais críticos de atrasos dos médicos eu estava ali acalmando as pacientes sem deixar o médico em situação difícil. Muitos chegavam nervosos e pouco a pouco eu conversava e a pessoa se acalmava. As mulheres diziam que a minha voz passava algo bom. Foram experiências incríveis. Fui homenageada duas vezes por pacientes que colocaram o nome das filhas de Hellen por verem-me com características de que gostavam. 

Naquele mesmo ano em 1985, fui para SEDF em uma escola no Setor P Sul – Escola Classe 44 e minha primeira turma era de alfabetização. No outro turno, consegui uma vaga na escola onde a minha mãe trabalhava, que era um Centro de Ensino Especial para alunos com deficiência. Lá eram quatro alunos com deficiência intelectual e muita aprendizagem com aqueles meninos, pois eram desafiadoras as histórias que envolviam aquele atendimento. Me apaixonei no primeiro olhar e segui desenvolvendo experiências maravilhosas.

Eu acreditava que ser professora era temporário. Queria trabalhar em um Tribunal e viajar pelo Brasil. Porém a educação tomou conta do meu coração e não consegui sair mais. E viajar pelo Brasil tornou-se realidade depois como professora, e isso é incrível!

O trabalho na Educação Especial foi crescendo. Minha comunicação com as crianças era muito profunda  e leve. Era fácil para mim em qualquer situação. Um olhar que se estendeu para todos. Até hoje me emociono só de lembrar. Coordenei vários projetos em que as crianças eram vistas pela comunidade. Penso que fui muito corajosa.

Organizei vários seminários, encontros e feiras, sempre compartilhando aquilo que movia o trabalho para todos os envolvidos. Atuei sempre na liderança de grupos e resolução de conflitos. Esses eram momentos em que estive à frente confiando naqueles professores, nos alunos e movimentando o amor que fluía.

Atuei como professora, coordenadora, vice-diretora e diretora de escola. Depois pedagoga da equipe de avaliação, professora da sala de recursos e coordenadora intermediária da Regional de Ensino de Taguatinga-DF.

Foram muitos anos de dedicação à educação especial, educação inclusiva, e essa atuação me proporcionou viajar pelo Brasil na década de 90 ensinando professores com a alfabetização de crianças com deficiência. Era a passagem do método fônico para o construtivismo. Foram anos de muita dedicação  e cheguei a escrever um livro com as professoras envolvidas naquele movimento que ficou para trás.  O mais interessaste é que em todo o meu percurso desde criança sempre atuei com amor conectando corações. Quando chegava cedinho à escola para dar a entrada, eu sempre falava para o meu coração: Que este dia se movimente com amor e, se não for para fazer o bem para todos, que eu saia desse trabalho. Hoje eu vejo o olhar amoroso que me movia depois das compreensões com o conhecimento sistêmico, porém muitas vezes fora do lugar. 

Foram centenas de palestras ministradas sobre educação especial e vida. Muitos prêmios no DF. Organização de seminários, congressos, organização de feira de ciência, feira do livro, mostra literária, assuntos relacionados à criança da Educação Especial e inclusiva. Fui formadora com cursos para professores alfabetizadores das crianças com Deficiência Intelectual, professores que atuavam com TEA – Transtorno do Espectro Autista, professores de alunos com deficiência múltiplas. Também atuei como professora na formação em Pedagogia pela FS e na formação de professores com a educação inclusiva em faculdades particulares.

Nesse percurso me casei com o Ademir Teles e me divorciei muitos anos depois. Tivemos quatro filhos: Leonardo, gêmeo com Alfredo, que não nasceu, Vitor Luís e Ana Clara. Nossa linda família seguiu com um ator, um fisioterapeuta e uma bióloga. Nossos filhos, que levam a nossa mistura e seguem!

Em 1993 nasce Leonardo, um menino lindo, sensível, alegre e muito esperado. Sempre falava para ele quando ainda estava na barriga que ele seria um palhacinho. E ele cresceu com muita graça e chegou até a fazer curso de palhaço até a adolescência. Só descobri que ele era gêmeo tempos depois, quando ele já era adulto. O mais interessante que o Pai desejava que seu nome fosse Alfredo e em votação ficou Leonardo. O pai nunca esqueceu o Alfredo e o nome sempre foi lembrado. Leonardo usava o pseudônimo de Alfredo nas peças de teatro. E mais tarde chega a informação de que Alfredo era seu gêmeo que não sobreviveu. Após essa informação, muita coisa foi para o lugar. Leonardo hoje segue a vida como ator.

Vitor Luís, muito esperto, carinhoso, brincalhão, nasceu com refluxo e ficou um ano em tratamento. Foi um tempo de muito estresse. Depois cresceu ativo e encantando com futebol. Um jogador talentoso até a vida mudar o rumo. Sempre olha o lado bom de tudo e ninguém fala de outra pessoa perto dele. Ele sempre tem algo bom para falar. Foi crescendo envolvido com o servir às pessoas e seguiu com a fisioterapia. 

Um dia me contou: “Mãe, o rapaz que atendi no estágio durante três meses voltou lá só para dizer que meu trabalho foi incrível e me agradecer.”

Perguntei: O que você acredita que foi o diferencial para ele voltar?

Mãe, eu trabalhei fazendo o que você ensina.

O quê?

Cada toque na perna dele eu honrava o pai e a mãe. Os pais certos para ele. Fiz todo trabalho com respeito aos pais.

Eu me derreti de alegria. Esse conhecimento já estava atravessando esse menino.

Ana Clara, sempre muito reservada, sistemática, dedicada e muito inteligente. Desde pequenina já era decidida e sabia o que queria. Sempre com o foco nos objetivos. Muito grudada com o Vítor, pois a diferença de idade era apenas um ano. Estava preparada para fazer engenharia e no último semestre do ensino médio se encantou por biologia e seguiu seu sonho. Faz planos e apresenta muita sintonia com a escolha. Uma menina flor.

Feliz com a minha criança que amadureceu cedo para ocupar-se dos pais e, com isso, o movimento amoroso seguiu transformando algo que poderia ser sofrido e pesado em alegre e leve. O servir adiante em concordância. O sim para a vida! Gratidão à vida! Gratidão aos meus pais.

A partir de 2014 entro em contato com o olhar sistêmico, segundo Bert Hellinger, e a partir desse momento inicio o encaixe que faltava na minha carreira profissional, dando nome ao que já fazia com tanta dedicação e amor. Caminhei das Constelações Familiares para a Pedagogia Sistêmica e não parei mais… Sigo espalhando esse movimento de amor, pois minha gratidão é tão grande a tudo que me proporcionou que faço valer a pena.

A Pedagogia Sistêmica oferece o caminho para o desenvolvimento de uma postura interna que modifica o modo como olhamos para todo o contexto em que vivemos. É profunda a minha gratidão a tudo que recebi no meu trabalho e na minha vida. Com o conhecimento das leis que Bert Hellinger apresentou e o levar adiante tudo que recebi para que outros possam receber também, é expressar na prática a minha gratidão.

Já foram mais de 40 turmas desde 2010, ano em que iniciei a primeira turma de formação, muitas palestras, workshop, seminários e congressos. E de lá para cá um percurso lindo se abriu. 

O olhar sistêmico chegou e colocou-me no meu lugar. As descobertas não param. Elas vão se apresentando no tempo certo. E foi assim que iniciei a escrita dos livros para inspirar outros professores. O meu primeiro livro é “O coração e o fio invisível”, dedicado aos professores, alunos e pais, e faz parte da coleção “Teia Sistêmica: O fio invisível conectando corações”. A coleção é linda e emocionante com histórias de sala de aula. O segundo livro da série foi “Bonecos de Força”, que também já foi lançado. O livro para bebês e o terceiro volume serão publicados em 2020. Ao lançar a editora Teia Sistêmica, amplio o meu olhar para que meus alunos publiquem os seus livros. Tenho um desejo de espalhar livros literários e didáticos pelo Brasil e o mundo.

No momento estou envolvida em muitas atividades e projetos a serviço dessa força que é o conhecimento sistêmico em nossa vida e na profissão. Feliz em seguir com todos os que vieram antes e fazer valer a pena a vida que recebi dos meus pais com um olhar a serviço e para o meu país.

Feliz com a minha criança que amadureceu cedo para ocupar-se dos pais e, com isso, o movimento amoroso seguiu transformando algo que poderia ser sofrido e pesado em alegre e leve. Feliz por reconhecer que, mesmo não conhecendo o meu vovô materno, Pedro, ele faz parte de mim, ele tem o seu lugar na minha vida e, assim, o vovô Pedro Militão Vieira foi incluído como um presente que chegou à minha família e desvendou muitos mistérios.

O servir adiante em concordância me fortalece todos os dias. E agora estou fortalecendo-me com a  Formação Pedagógica Sistêmica on-line  e o desafio da Pós-Graduação em Pedagogia Sistêmica. É a Pedagogia Sistêmica seguindo para todos os cantinhos que existem nesse Brasil e no Mundo. A formação on-line já é um sucesso!

Feliz em seguir com todos os que vieram antes e fazer valer a pena a vida que recebi dos meus pais com um olhar a serviço e para meu país.

 

Gratidão à vida! Gratidão aos meus pais e familiares. Gratidão aos meus professores…

Hellen Vieira da Fonseca

“Nenhum aluno resiste ao olhar amoroso de um professor.”
Hellen Vieira da Fonseca

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