A mãe: honrando as mulheres do sistema familiar

“Está tudo certo do jeito que foi! Eu sigo fazendo com alegria e todas vocês serão honradas através de mim…”.
Quando me lembro de como a minha mãe estava na minha idade… Ah…! Vou compartilhar com vocês um pouco do que foi a minha transformação desde a morte da minha mãe.
Ela estava em tratamento médico e foram anos em tratamentos diversos. Eram tantas dores internas e externas…
Alguns anos depois, a doença já estava tomando conta e, logo em seguida, a morte… Um momento em que se mistura não aceitar a realidade e ter que encará-la com tudo que se apresenta. Um momento em que a tristeza tomou conta do meu coração e a frase que pulsava era: “Eu não consigo viver sem ela”. Eu pensava que, se minha mãe morresse tão jovem, eu também teria que morrer. A tristeza tinha que permanecer para me sentir digna de ser sua filha.
A minha mamãe lutava com a sua tristeza. A mamãe dela também era triste e morreu nova. A mamãe dela fazia falta para ela. Eu sempre tentava ajudar minha mãe a suprir essa falta e essa tristeza não dando trabalho e buscando formas para ajudá-la. E não adiantou.
Como me alegrar com a vida se a minha mamãe havia morrido? O que fazer com tudo que ela me falava relacionado às suas tristezas?
Essas eram perguntas constantes. Assim, o meu movimento era trabalhar muito e não pensar no que havia acontecido. E, sem perceber, um dos nossos filhos se movimentava por mim. Naquele momento, ele também queria me ajudar ocupando o meu tempo com problemas escolares e outras dificuldades. Claro que tudo isso acontecia de forma inconsciente. A clareza dessas dinâmicas ocorre hoje.
Dois anos depois da morte de minha mamãe, conheci as leis do amor apresentadas por Bert Hellinger. Cheguei a esse conhecimento por curiosidade e achando que estava tudo bem com a minha maneira de pensar.
Foi impactante! Nada continuou mais como antes. Ao entrar em contato com as leis do amor, eu alcancei uma compreensão e uma clareza sobre a simplicidade da vida. É possível seguir com alegria mesmo com as mortes e as dores que existem no nosso sistema familiar.
O maior presente que ganhei com o olhar sistêmico foi perceber que a minha mãe segue em cada célula do meu corpo. Em mim ela pulsa nas características, nas atitudes e na vida. Compreendi também que todas as vezes em que a tristeza toma conta com o olhar no passado, essas células paralisam e o fluxo do movimento que é a vida “para”.
Foi assim que dia a dia meu coração se abriu para o novo e para as possibilidades que ele oferece. Fui compreendendo que a minha mãe ganhava vida dentro de mim quando olhava para frente e me alegrava fazendo algo bom para o todo, como: cuidar dos filhos, do relacionamento e de mim, servir através do meu trabalho com alegria e olhar para abundância que é a vida. Eu me liberei de reclamar do passado ou ficar triste por sua morte. Passei a concordar com tudo do jeito que foi e tomar a vida que me foi dada com simplicidade e alegria. A maneira como via minha mãe mudou e assim foi mudando o que estava em minha volta. Isso não tem preço!
Desse modo, fui incluindo no meu coração a minha mãe com a minha vovó, com a minha bisavó, com a minha tataravó… todas as mulheres do meu sistema com suas dores e amores que viveram no tempo delas do modo que puderam. Muitas delas em sua vida não tiveram a oportunidade e a facilidade que hoje eu tenho. Muitas delas desejaram fazer diferente, mas não conseguiram. Eu faço. Muitas delas não tinham a permissão para sorrir, e eu tenho. E hoje me alegro com tudo!
Com esta compreensão, percebi que ao fazer com alegria, coragem, amor e foco aquilo que transborda em mim, estava ao mesmo tempo honrando a força de todas em mim. A sensação era a de que eu olhava para todas elas e dizia a frase: “Por favor, me abençoe se eu fizer um pouquinho diferente de vocês. O meu sucesso eu ofereço a vocês. E me alegro!”
Isso foi mágico! Trouxe-me uma nova Hellen, uma mulher leve, com uma alegria e força jamais sentidas. Essa descoberta levou-me para a decisão do “Eu faço” por todas e em homenagem a todas. Venho desabrochando o amor de todas e, claro, cada vez mais respeitando os homens que junto com essas mulheres do meu sistema me trouxeram aqui. A frase que pulsa é:
“Está tudo certo do jeito que foi! Eu sigo fazendo com alegria e todas vocês serão honradas através de mim”.
Aqui eu me emociono… Sinto todas se alegrando!
Homenagem ao Dia Internacional das Mulheres
Aceitar o convite e tirar as fotos em homenagem ao Dia Internacional da Mulher representa essa força. Já na maquiagem, no cabelo e, depois, nas fotos o que pulsava era: Faço por vocês e para vocês. Mãe, avó, bisavó, tataravó… Imagina a alegria da minha vovó Zulmira com esse cabelo produzido que ficou a cara dela. Rsrsrs…
Trouxe a força de todas as mulheres do sistema. Nem eu imaginava o quanto de alegria estaria transbordando ali. O tempo todo eu dizia ao meu coração: Eu faço por todas! E a alegria me atravessou com uma força inexplicável e preenchida de amor. Todas se alegraram com a minha alegria. Todas aplaudiram a minha coragem. Todas receberam juntinho no meu coração. E a tristeza do passado se transforma em fazer com alegria. Essa foi minha grande transformação que transbordou nas fotografias. Me senti plena e muito alegre por todos os passos nesses últimos anos.
Gratidão às mulheres do meu sistema familiar. Gratidão à vida!
Sou uma mulher comum da geração de mulheres comuns. Nós para frente.
Hellen Vieira da Fonseca, 2019.