A sua mãe é a certa para você: voltando para o lugar de apenas a diretora da escola
Está experiência vivi com uma aluna muito querida que, aqui, será chamada de “M”, sua mãe de “T” e seu pai de “P”.
“M” foi minha aluna durante cinco anos. Nosso vínculo era muito forte e continuamos muito ligadas mesmo depois da mudança de professor. Ela era uma aluna classificada como deficiente mental, com vários problemas de comportamento e relacionamento. Sempre me procurava para ajudá-la a resolver suas dificuldades. Sua mãe dizia que não sabia o que fazer se um dia eu saísse da escola, pois “M” me amava e eu sabia como conduzi-la sem dificuldades. Quando assumi o cargo de diretora da escola, os conflitos envolvendo esta criança continuaram e com o tempo passou a me chamar de mãe. Percebi muitas vezes que fazia isso também na frente de sua mãe. Eu lhe dizia que sua mãe é a “T”, mas não adiantava. Algumas vezes, quando a mãe me entregava “M” na entrada, eu lhe pedia que desse um beijo na mãe e se despedisse, mas ela respondia: “não. Eu gosto da Hellen, ela é minha mãe”. Sua mãe dizia que estava tudo bem, que ela era assim mesmo, mas no meu íntimo sentia algo estranho com estas colocações que se repetiam.
Em um dos workshops de que participei o facilitador colocou algumas questões relacionadas a escolas que me tocaram profundamente. Senti naquele momento que este era o caminho para a solução do que estava vivendo com “M”.
Quando “M” me encontrou na escola, começou a falar tudo outra vez. Disse-lhe que teríamos uma conversa e que gostaria de que ela me ouvisse. Olhei em seus olhos, visualizei meus pais atrás de mim e visualizei seus pais por detrás dela e silenciei. Ela tentava desviar o olhar, mas acabou se concentrando. Falei-lhe: – “Sua mãe é a “T” e seu pai é o “P” e graças aos dois hoje eu tenho você como aluna nesta escola. A “T” é a mamãe certa para você e o “P” é o papai certo para você, pois eles lhe deram a vida e tem o meu respeito do jeito que são. Eu fui sua professora, hoje estou diretora da escola e continuo gostando de você e sempre que necessário vou agir como a diretora da escola”.
No início ela estava resistente, mas depois percebi sua emoção e lhe disse: “Como você se sentiria se sua mãe lhe dissesse que não queria você como filha, que queria outra filha?” Ela me respondeu com a voz engasgada: “mal”.
Naquele momento senti o fluir do nosso amor e a força deste trabalho na escola quando amamos as crianças através de seus pais. Sei que estive em uma posição de arrogância por ignorância e acredito que de forma inconsciente estava me colocando acima da mãe, como se fosse mais importante e melhor que a mãe da criança. Depois desse momento, tudo se acalmou. “M” passou a me chamar pelo nome e sua mãe tinha uma expressão de alívio como se tivesse recebido a filha de volta e, aos poucos, foram diminuindo as idas de “M” à minha sala e ela se controlava melhor quando me encontrava.
A maioria das pessoas que trabalham com crianças especiais pensa que os pais não conseguem lidar bem com os seus filhos. Muitos professores demonstram sentimento de pena, outros inconscientemente demonstram isso em suas ações e colocações.
Segundo Hellinger (2007, p. 97) “… o professor quando vê os alunos também vê seus pais por detrás deles. Toma os pais das crianças para dentro de seu coração, independente de como sejam, pois todos os pais são perfeitos, no seu papel de pais… um professor respeita o que tem de especial em uma família, quando encontra uma criança, sem ter a fantasia de que essa família deveria ser diferente do que ela é”.
Hellen Vieira da Fonseca, 2015.
Bibliográfica:
HELLINGER, Bert. Histórias de Amor. Patos de Minas: Editora Atmam, 2007, p. 97. Tradução de Lorena Richter e Filipa Richt