Bullying e os ensinamentos da Pedagogia Sistêmica
Introdução
O presente trabalho constitui-se no relato de experiência de atividades realizadas por uma orientadora educacional, baseadas nos conceitos da Pedagogia Sistêmica, em uma turma de 4º Ano do Ensino Fundamental, na Escola Classe 22 do Gama.
As atividades realizadas tinham por objetivo diminuir as ocorrências de bullying e o desrespeito entre os estudantes.
A professora da turma procurou o Serviço de Orientação Educacional para pedir a realização de um trabalho na turma sobre respeito, pois percebia muitos xingamentos, apelidos desrespeitosos e pequenos conflitos entre os estudantes que causavam estresse e atrapalhavam a condução eficiente da aula.
Contextualização e Caracterização da Unidade Escolar:
A Escola Classe XX do Gama possui um total de XXX estudantes matriculados, organizados em 28 turmas, as quais são divididas em Classe Especial, Educação Infantil e 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental.
A comunidade escolar é muito participativa e é formada por alunos moradores da região do entorno sul do Distrito Federal e alunos que residem em todos os setores do Gama.
Os estudantes vivem em contextos diversos, muitos deles convivem com situações de violência física e estrutural. Sendo assim, a demanda do Serviço de Orientação Educacional desta Instituição de Ensino é grande e atende com frequência casos como: violência doméstica, bullying, fome, abuso sexual, falta de acompanhamento familiar, negligência, entre outros.
Além disso, a instituição tem enfrentado mais dois grandes desafios que afetam diretamente a qualidade do atendimento prestado pela Equipe de Apoio:
- falta de estrutura e de locais adequados para realizar os encaminhamentos dos alunos que moram no entorno, pois, nessa região, o trabalho dos conselhos tutelares e da rede de saúde é bastante precário e praticamente não há locais para encaminhar crianças que necessitem de atendimento extraclasse (esportes, reforço, atendimento médico etc.);
- ausência de psicólogo na Equipe Especializada de Apoio à Aprendizagem para realizar avaliação e atendimento aos estudantes com transtornos (TDAH, DPAC, Dislexia e outros). Além disso, o trabalho do Serviço de Orientação Educacional é integrado com o da Sala de Recursos e da Equipe Especializada de Apoio à Aprendizagem (pedagoga).
Destaca-se que uma das grandes queixas dos professores era de que a comunidade era muito participativa em eventos e atividades promovidos pela escola, contudo, faltava a participação efetiva durante as reuniões e demais convocações feitas pela escola. Cenário esse que tem melhorado, pois muitos dos pais que não podem comparecer nos dias das reuniões têm comparecido à escola em outros momentos por convocação do SOE, da SR ou da Direção. No entanto, ainda há certa dificuldade com alguns pais que residem no entorno e não conseguem acompanhar de maneira sistemática a vida escolar dos filhos.
Ressalta-se que a Equipe de Apoio (Serviço de Orientação Educacional e Sala de Recursos) desta Instituição de Ensino tem tido boa avaliação por toda a comunidade escolar, que reconhece a importância e a necessidade do trabalho realizado.
Tema: Eu tenho a força
Materiais Utilizados:
- livro: Eu tenho a força: a separação não existe.
Autora: Emanuelle Weyl da Cunha Amoury. Editora Viseu.
- livro: As aventuras da Professora Tina e os Bonecos de Força. Autora: Hellen Vieira da Fonseca.Editar Editora e Artes.
- 20 cópias do Anexo B – Bonecos de Força – p. 49 do livro As Aventuras da Professora Tina e os Bonecos de Força.
- 20 copias do Anexo C – Desenho do Coração – p. 50 do livro As Aventuras da Professora Tina e os Bonecos de Força.
- lápis de escrever;
- lápis de cor;
- papéis coloridos;
- papéis brancos;
- cola;
- fita crepe.
Descrição da Experiência:
A atividade iniciou-se com muita agitação, pois organizamos as cadeiras, que estavam enfileiradas, em semicírculo. Após fazermos isso, cada estudante escolheu onde se sentar.
Em seguida, os estudantes foram questionados sobre como se sentiam naquele lugar. A maioria afirmou que gostou de onde estava sentada. Logo percebemos que se sentavam em “panelinhas”, meninos separados de meninas e alguns ficavam isolados.
Depois, a orientadora entregou uma folha de papel em branco e pediu para que cada estudante colocasse a data do seu nascimento, para, depois, organizarem-se de acordo com a ordem de nascimento: do mais velho para o mais novo, em sentido horário.
Nesse momento, instaurou-se uma grande confusão. Foi necessário a intervenção e mediação para que conseguissem se alocar em seus novos lugares. Houve muita reclamação, pois amigos foram separados e meninos e meninas tiveram que ficar lado a lado.
Um fato interessante é que na turma há um casal de gêmeos (um menino e uma menina) e, como nasceram no mesmo dia, tivemos de verificar o horário de nascimento de cada um. É importante frisar que a menina não gostou de jeito nenhum de ficar ao lado do irmão.
Houve reclamação generalizada quanto ao local onde cada um ficou. É sabido que a turma, pelo próprio comportamento, gosta de desafiar e não aceita regras. Foi difícil que aceitassem seus novos lugares.
No dia seguinte, os estudantes acharam que voltariam para o mapeamento antigo. Então, sentaram-se em seus antigos lugares. Após a chegada da orientadora e da professora, foram organizados novamente de acordo com o novo mapeamento.
Após realocarmos os estudantes de acordo com o novo mapeamento, fizemos o trabalho com os bonecos de força. Contamos a história “Eu tenho a força: a separação não existe” e pedimos para que os estudantes fizessem um desenho da família. Foi um momento muito prazeroso. Não houve reclamações e todos fizeram a atividade com empenho. Apenas um estudante quis desenhar o padrasto e não o pai verdadeiro. Permitimos que ele fizesse o que lhe deixasse à vontade.
Depois da atividade de desenho, cada estudante se apresentou com os dizeres: Eu sou XXX, filho de XXX e XXX eu sou a misturinha perfeita do meu pai e da minha mãe e eu tenho a força dos meus pais.
As frases que seriam completadas foram escritas no quadro para que eles não se esquecessem. Foi possível observar que os estudantes se divertiram muito apresentando seus pais uns para os outros.
Após as apresentações, cada estudante colou seu cartaz com os bonecos de força na parede da sala de aula e foram orientados a respirar a força dos seus pais. Os bonecos de força continuaram em sala de aula durante quase dois meses, depois a professora da turma os retirou.
Resultados e Considerações Finais
Consideramos positivos os resultados do trabalho. A professora da turma relatou mudança de comportamento na turma. Ela informou que os estudantes ficaram mais calmos e que melhoraram as relações interpessoais entre eles.
A postura da professora foi ótima, pois ela deu continuidade ao trabalho realizado e sempre buscava recurso nos bonecos de força quando os estudantes começavam com brincadeiras inadequadas.
Além disso, sempre que acontecia alguma desavença entre os estudantes na sala a professora pedia para cada estudante olhar nos olhos do outro e dizer: “eu vejo você, eu vejo você do jeito que você é”, aqui você tem um lugar, você faz parte.
A professora relatou que parecia mágica. Logo após essa fala, os estudantes melhoravam o comportamento.
Nota-se, portanto, que foram positivos os resultados obtidos com a realização das atividades baseadas nos recursos da Pedagogia Sistêmica. Acreditamos que o trabalho desenvolvido por professores em suas turmas desde o início do ano letivo pode gerar resultados ainda melhores.
O nosso desafio agora é desenvolver a formação sobre o tema com os professores e nosso sonho é que a escola tenha nos alicerces do Plano Pedagógico a Pedagogia Sistêmica.
Ana Cláudia Costa Medeiros, Gama-DF, 2018.
Bibliografia:
AMOURY, Emanuelle Weyl da Cunha. Eu tenho a força: A separação não existe. Brasília, Editora Viseu, 2018.
FONSECA, Hellen Vieira da. As Aventuras da Professora Tina-Bonecos de Força. Brasília, Editar: Editora e Artes, 2019.
Formação em Pedagogia Sistêmica com a Educação com base nos ensinamentos de Bert Hellinger. IHVF